Historial de Ataíde
CLASSIFICAÇÃO DE BENS IMÓVEIS
IDENTIFICAÇÃO
- Património Arquitectónico X Património Arqueológico Património Misto
- Designação/Nome: Igreja Matriz de Ataíde .
- Outras Designações: Igreja Paroquial de Ataíde; Igreja de S. Pedro de Ataíde.
- Local/Endereço: Rua da Igreja, s/n.º – 4605-037 Vila Meã.
- Localidade: Ataíde.
- Freguesia: Vila Meã.
- Concelho: Amarante.
- Distrito: Porto.
CARACTERIZAÇÃO
- Função Original: Religiosa (Culto).
- Função Actual: Religiosa (Culto).
- Enquadramento: A Igreja encontra-se junto a dois Largos (Largo Zé do Telhado e Largo da Feira), uma das centralidades mais interessantes, em termos arquitectónicos, de Vila Meã.
- Descrição Geral: Igreja de planta longitudinal, composta por nave, com coro, e capela-mor. Fachada rebocada e pintada de branco, percorrida por soco em cantaria, flanqueada por cunhais apilastrados, sublinhados por pináculos. Remate em empena sobrelevada, coroada por cruz latina sobre pedestal. Portal de verga curva moldurado por arco quadrilobado, encimado por janelão de verga curva. Adossada ao corpo principal da igreja, encontra-se a sacristia (a nascente) e a torre sineira (a poente). Dividida em três registos, o último dos quais com quatro ventanas de volta perfeita, a torre sineira, com quatro pináculos nos cunhais, é rematada por uma cúpula bolbiforme.
Pavimento da nave em soalho, tecto em caixotões de madeira pintada de branco com moldura em dourado, paredes azulejadas, a branco e azul, com motivos geométricos e elementos estilizados relativos à crucificação de Jesus Cristo. Sobre as portas laterais, com sanefas, dois painéis de azulejos representam cenas do Novo Testamento relacionadas com a vida de S. Pedro: Cristo caminhando sobre as águas, acalmando a fúria do mar (do lado da Epístola) e Cristo observando Simão (Pedro), que puxa as redes carregadas de peixes (do lado do Evangelho).
À entrada, do lado do Evangelho, com acesso por portal em granito, de arco de volta perfeita, pia baptismal de granito, encimada por painel de azulejos representando o baptismo de Jesus Cristo. Coro alto de madeira, de parapeito pintado de castanho, com acesso (do lado da Epístola) por escadaria em madeira, com corrimão replicando o parapeito.
Ainda do lado do Evangelho, púlpito de base rectangular de granito moldurado, assente em mísula, parapeito de talha pintada de branco e dourado, degraus em granito adossados à parede, sem corrimão.
Os dois altares laterais, em talha pintada de branco e dourado, são dedicados a Nossa Senhora de Fátima (lado da Epístola) e ao Sagrado Coração de Jesus (lado do Evangelho).
Arco-triunfal de volta perfeita, assente em capitéis dóricos, sobrepojado por sanefa de talha, ladeado por dois altares colaterais, em talha pintada de branco e dourado: o de Cristo Crucificado (do lado da Epístola) e o de Nossa Senhora das Dores (do lado do Evangelho).
Capela-mor de pavimento desnivelado, em soalho. Tecto em caixotões de madeira pintada de branco com moldura em dourado. Paredes azulejadas, a branco e azul, com motivos geométricos e elementos estilizados relativos à crucificação de Jesus Cristo, com dois painéis representando cenas do Novo Testamento relacionadas com a vida de S. Pedro: Cristo dirigindo-se a Simão (Pedro), após a pesca, incentivando-o a apascentar os seus cordeiros e as suas ovelhas – Pasce agnos meos; Pasce oves meas [Vulgata, João, 21. 16-17] (do lado do Evangelho); Cristo dirigindo-se a Simão, dizendo-lhe que a partir daí seria Pedro e sobre essa rocha edificaria a sua igreja – Et ego dico tibi quia tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam [Vulgata, Mateus, 16, 18] (do lado da Epístola). No altar-mor, com trono, um retábulo de talha pintada e dourada, com duas colunas de ambos os lados, apresenta dois nichos onde se encontram as imagens de Santo Tirso (lado da Epístola) e de S. Pedro (do lado do Evangelho).
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-ARTÍSTICA
- Época(s) construtiva(s): Século XVIII (1783).
- Síntese histórica: A freguesia de Ataíde foi extinta em 2013, no âmbito da reforma administrativa, tendo sido agregada às freguesias de Real e Oliveira para formar uma nova freguesia, a União da Freguesias de Real, Ataíde e Oliveira, que passaria a designar-se oficialmente freguesia de Vila Meã desde 5 de Junho de 2015.
Fez parte (desde a Idade Média até 24 de Outubro de 1855) do concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega cuja sede era em Vila Meã. A partir daí passou para o concelho de Amarante.
Segundo a lenda, a freguesia de S. Pedro de Ataíde foi fundada por Atanagildo, rei dos Godos, em 560. Desde a Idade Média até 24 de Outubro de 1855 fez parte do concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega cuja sede era em Vila Meã. A partir daí passou para o concelho de Amarante.
No foral que o rei D. Manuel I concedeu a Santa Cruz de Riba Tâmega, a 1 de Setembro de 1513, referem-se as obrigações a pagar nos termos que se seguem:
Item Diogo Pires, do Mato, traz um casal do mosteiro de Bustelo que se chama do Mato. Paga dele ao senhor da terra uma espádua de porco ou cem reais por ela. Não sabe por que título lha levam e que havia treze ou catorze anos que trazia o casal e de então a pagou sempre.
Na sua célebre Corografia Portuguesa, o Padre António Carvalho da Costa (1650-1715) afirmava que nesta freguesia se situava a quinta e casa de Ataíde, em que houvera torre (entretanto desfeita), que era o solar da ilustre família dos Ataídes, “descendente por varonia de D. Moninho Viegas, o Gasco, que ganhou o Porto”. Segundo o referido autor (que recorre ao Nobiliário do Conde D. Pedro de Barcelos), o primeiro a usar o nome da freguesia terá sido D. Martim Viegas de Ataíde, do qual descendiam e tinham esse apelido as três casas titulares dos condes de Atouguia e as de Castanheira e Castro de Aire.
Nas Memórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726, Francisco Xavier da Serra Craesbeeck (1673-1736), citando a Pedatura Lusitana, de Cristóvão Alão de Morais, afirma que D. Martim Viegas de Ataíde não foi o primeiro a usar o dito apelido, nem o primeiro senhor do referido solar. Antes dele havia-o sido D. Maria de Ataíde, filha de D. Paio, senhor de Ataíde. Do casamento de D. Maria de Ataíde com D. Egas (Martins) haveria descendência: o já citado D. Martim Viegas de Ataíde e D. Paio de Ataíde, que seguiram a corte do rei D. Afonso Henriques.
Sobre a igreja então existente, que antecedeu a actual, dizia Craesbeeck:
“A igreja de São Pedro de Ataíde é do ordinário do Porto e seu abade o Padre João Machado de Miranda; não tem sacrário, nem sepulturas com letreiros e só tem uma capela filial de Nossa Senhora do Pinheiro, no lugar deste nome. Tem porém na capela-mor uma milagrosa imagem de Santa Cita e, no altar colateral, da parte do evangelho, a imagem de São Pedro, que é o orago; e, no da parte da epístola, a imagem de Nossa Senhora do Rosário”.
Três décadas mais tarde, o Padre Luiz Cardoso no seu Diccionario Geografico, elaborado com as respostas ao inquérito de 1758, confirmava algumas dessas informações (não todas), e adiantava outras, dizendo:
“A Igreja Paroquial deste lugar, e Freguesia, está situada nos seus passais, e no meio do povoado; é seu Orago S. Pedro, Príncipe dos Apóstolos; fica com a porta principal para o Poente, e a porta travessa para o Norte, e para a mesma fica também a sacristia. É templo pequeno, e de uma só nave, com três altares, o maior com a imagem de Santa Rita de Cássia, e dois colaterais, ambos com as costas para o nascente, e no que fica à parte do norte está colocada a imagem do Santo Patrono, e no que fica para o sul a Imagem da Virgem Nossa Senhora do Rosário com o Menino Deus nos braços.
O Pároco é Abade, que apresenta Sua Santidade, o Cabido da Cidade do Porto e os Religiosos Bentos do Mosteiro de S. Miguel de Bustelo alternativamente. Tem de renda o Abade a décima parte de todos os frutos, e com os passais e oblações chegará a cento e cinquenta mil reis.
Há nesta Freguesia uma Ermida, na qual está colocada uma Imagem da Virgem Senhora Nossa da Natividade, chamada vulgarmente a Capela do Pinheiro, por estar fundada num lugar deste nome. Fica no princípio da Freguesia junto ao Lugar, e por perto dela vai correndo a estrada, que vem do Porto para Vila Real e Província de Trás-os-Montes. A esta Ermida, que está fundada em sítio alto, vem todos os anos em certos dias procissões com clamores da Freguesia de S. Mamede de Recesinhos, da Freguesia de Vila Boa de Quires, da Freguesia de Santa Maria a Alta de Meinedo e da Freguesia de S. Salvador de Castelões, todas Freguesias deste Bispado do Porto. Acodem mais duas procissões com clamores da Freguesia de S. Pedro de Caíde e outro da Freguesia do Salvador de Real, ambas do Arcebispado de Braga, e todas em satisfação de votos muito antigos, que fizeram seus antepassados”.
Há memória, que permaneceu até ao século XVIII, de que a ermida de Nossa Senhora do Pinheiro (ou da Natividade) foi hospital administrado pelos antigos ascendentes de D. Manuel de Azevedo e Ataíde e por eles sustentado.
Durante muitos anos, para essa ermida se dirigiam procissões com clamores vindas das freguesias de S. Mamede de Recesinhos, Vila Boa de Quires, Meinedo, Castelões, Caíde de Rei e Real.
Para o Calvário, um dos lugares da freguesia, era tradição muito antiga que a ele viesse, desde a igreja de S. Salvador de Castelões, a procissão do Senhor dos Passos.
Tendo a freguesia como orago S. Pedro, natural é que a festa local lhe seja dedicada. De facto é o que acontece, há muitos anos, no último domingo de Junho.
BIBLIOGRAFIA
António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa…, 2.ª edição, 3 tomos, Braga, 1868-1869.
Domingos de Pinho Brandão, Obra de Talha Dourada, Ensamblagem e Pintura na Cidade e na Diocese do Porto, vol. I, Porto, 1984.
Foral de Santa Cruz de Riba Tâmega, Amarante, Câmara Municipal de Amarante, 2008.
Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, Memórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726, 2 vols., Ponte de Lima, Edições Carvalhos de Basto, 1992.
José Viriato Capela (e outros), As Freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758 – Memórias, História e Património, Braga, 2009.
Luís Cardoso, Diccionario, ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares e aldeas, rios, rbeiras, e serras dos Reynos de Portugal, e Algarve…, 2 vols., Lisboa, 1747-1751